segunda-feira, 6 de abril de 2015

Resenha do livro Sagas 3 - Martelo das Bruxas

Hoje tem nova resenha da coleção Sagas, lançada pela editora Argonautas. O terceiro volume se chama "Martelo das Bruxas" e traz contos fantásticos de 5 autores brasileiros.

Capa do livro Sagas 3 - Martelo das Bruxas, lançado pela editora Argonautas.


Não me lembro de ter lido recentemente obras com protagonistas bruxas, quase tudo o que tenho visto com essas personagens são servindo a heróis ou como antagonistas. Isso foi uma das coisas que mais me alegraram durante a leitura do Sagas 3, e o fato das personagens não ficarem presas a dicotomia de bem e mal.

A introdução da obra foi escrita pela Simone O. Marques, que dá um contexto sobre a perseguição que as mulheres sofreram durante a Inquisição acusadas de bruxaria, muitas vezes apenas por ter um discurso político que destoava daquele praticado pela fé cristã, dominante na época, ou pelo conhecimento que tinham de medicina natural. Também agita o caldeirão de nossas mentes ao nos preparar para os contos que estão por vir.

Segue-se então uma segunda introdução, escrita por Duda Falcão, editor da Argonautas e historiador, que nos conta sobre o verdadeiro Martelo das Bruxas, o Malleus Maleficarum, escrito por 2 monges dominicanos e cujo conteúdo promovia a perseguição aos hereges e infratores das santas leis da Igreja Católica.

Após experimentar essas doses amargas, poções de nosso passado, nós leitores estamos iniciados para as aventuras fantásticas a seguir.

O conto que abre a antologia chama-se "Cada História Tem...", de Christopher Kastensmidt. Pedro Luiz, um inquisidor português, é enviado ao Brasil, na época colonial, para investigar e punir os diversos casos de sodomia, bígamos, pratica do judaísmo e bruxaria que surgiam no país. Como Visitador do Santo Ofício, nenhuma autoridade ousava ir contra suas determinações. Exceto por Beatriz, uma mulher envolvida com a bruxaria e que viu diversas amigas serem flageladas até a morte pelos motivos mais injustos. Esse conto serviu de inspiração direta para a capa da obra e é o meu preferido dela. Kastensmidt constrói muito bem os personagens, suas ambições, o cenário e toda a trama, com ação do início ao fim.

"O Quão Forte Pode um Gigante Gritar" é o segundo conto, escrito pela Ana Cristina Rodrigues. O gigante Fomori, único de sua raça a não viver escondido nas Colinas Ocas, é banido do continente após desrespeitar as regras do Conselho Sidhe pela segunda vez. Em sonhos, ele é atormentado pelas lembranças de sua família, uma história de conflitos entre crenças e raças, que sangra mais a cada página virada. Esse conto apresenta uma trama bem fluída num universo complexo de seres encantados, me lembrando os escritos da Marion Zimmer Bradley e aventuras de Changeling, o RPG feérico da Whitewolf. Adorei, um conto de fadas brutal!

O terceiro se chama "Encruzilhada" e foi escrito pelo Douglas MCT. Enquanto o pai lenhador precisa passar um tempo longe de casa, Mara e Koliada ficam sob os cuidados de Dola, uma governanta autoritária e cristã fervorosa. As duas garotas têm sonhos onde recebem o chamado para um coven, mas precisarão passar por provações e evitar que Dola descubra o segredo delas. Esse conto começa como uma fantasia juvenil, mas a cada página virada o autor nos leva a um cenário cada vez mais sombrio e terrível. Embora tenha achado um pouco confuso da metade para o final, gostei muito da história e principalmente dos diálogos que o autor criou.

"A Justiça Desse Mundo", da Ana Lúcia Merege, é o penúltimo conto da antologia. Benjamin Lamb é um jovem clérigo, idealista e ingênuo. Por isso sofre bastante ao saber que seu primo Nicholas está prestes a ser condenado a morte por bruxaria. Ben acaba por se oferecer para sua família e da noiva de Nicholas a ajudá-los a provar a inocência do primo, mas acaba descobrindo que nem tudo é o que parece. Conto dramático, com um protagonista bem humano, que faz com que sintamos certa empatia com ele já no início. Uma ótima história, minha segunda favorita da obra, transmite muito bem o pavor dos condenados e como aquilo que é visto como o mal pode ser bom e vice-versa. Principalmente o vice-versa hahahaha.

Para fechar, temos o conto "Missa Negra", escrito pelo Duda Falcão. Um casal decide tentar uma nova vida numa cidade do interior do Brasil. O sonho de construir grande riqueza como agricultor, no entanto, é severamente abalado quando uma seca anormal assola a região, levando todos à miséria. Todos, exceto uma família recém-chegada. O que desperta suspeitas de magia negra na supersticiosa população local. Assim como a história de Douglas, essa traz um clima mais sombrio do que as outras. Apresentando, como se nota já no título, uma visão das bruxas como adoradoras do demônio, me incomodou um pouco por raspar algumas vezes num lugar-comum. Por outro lado, o fato de ser narrado em primeira pessoa nos faz mergulhar com o protagonista num conhecimento que leva à loucura, lembrando em muito as narrativas de Lovecraft, que adoro.

Não poderia terminar a resenha sem comentar a ilustração de Fred Macedo. Como disse acima, a capa foi inspirada no conto de Kastensmidt e, embora seja muito legal, no final o leitor pode conferir uma versão mais sensual e macabra dela, que me agradou mais, mas entendo que por motivos maiores ela ficou apenas como um extra.

Ilustração do livro Sagas 3, feita por Fred Macedo.

Enfim, mais uma maravilha da editora Argonautas. Mal vejo a hora de botar as mãos no próximo volume, que tem como tema odisseias espaciais.

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